<MOLD=2 pt><MF=27 mm><PF=15 mm><LF=164 mm><AF=258 mm><FIOH=2 pt><MF=27 mm><PF=40 mm><LF=164 mm>ATA DA DÉCIMA SESSÃO SOLENE DA PRIMEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA SEGUNDA LEGISLATURA, EM 15.05.1997.

 


Aos quinze dias do mês de maio do ano de mil novecentos e noventa e sete reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezessete horas e vinte e cinco minutos, constatada a existência de "quorum", o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada a homenagear o Estado de Israel, nos termos do Requerimento nº 72/97 (Processo nº 1131/97, de autoria do Vereador Isaac Ainhorn. Compuseram a Mesa: o Vereador Clovis Ilgenfritz, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; o Senhor José Fortunati, Vice-Prefeito de Porto Alegre, representando o Senhor Prefeito Municipal de Porto Alegre; o Doutor Ricardo Russowsky, Presidente do Sistema Financeiro Estadual, representando o Senhor Governador do Estado do Rio Grande do Sul; o Senhor Samuel Burd, Presidente do Conselho de Entidades Judaicas do Estado do Rio Grande do Sul; o Doutor Maurício Soibelmann, Presidente da Federação Israelita do Rio Grande do Sul; o Coronel Irani Siqueira, representando o Comando Militar do Sul; o Major Gilson Zimermann, representando o Comando da Brigada Militar do Estado do Rio Grande do Sul; o Vereador Reginaldo Pujol, na ocasião, Secretário "ad hoc". Ainda, o Senhor Presidente registrou as presenças, como extensão da Mesa, do Senhor Ney Michelucci Rodrigues, Diretor-Presidente da União de Seguros; do Senhor Samuel Ochman, Presidente da Associação Israelita Brasileira Maurício Cardoso; do Senhor Ghedale Saitovitch, Presidente da Associação Sionista do Rio Grande do Sul; da Senhora Matilde Gus, representando a Vitso do Rio Grande do Sul; do Senhor Guershon Kwasniewski, representando a Sociedade Israelita Brasileira; do Rabino Mendel Riberow, das Senhoras Ana Rosa Ratner Kirschbaum, Helga Hofmann e Cirlei da Graça Santana, representando a Instituição de Mulheres Judias (Wizo); do Senhor Israel Lapchik, Vice-Presidente do Conselho de Cidadãos Honorários de Porto Alegre; do Senhor Nilo Berlim, Presidente da B'nai B'rith; e do Senhor Henrique Henkie, ex-Deputado Federal. Em prosseguimento, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, assistirem à execução dos Hinos Nacionais Israelense e Brasileiro. Após, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Isaac Ainhorn, em nome das Bancadas do PDT, PTB, PMDB, PPS e PSB, lembrou Lei Municipal estabelecendo a data de quatorze de maio como o Dia de Solidariedade ao Estado de Israel, historiando sobre a constituição desse Estado e destacando a importância da comunidade judaica para o desenvolvimento gaúcho e brasileiro. Após, o Senhor Presidente registrou o recebimento de correspondência alusiva à presente solenidade, do Senhor Nelson Proença, Secretário Estadual  de  Desenvolvimento  e  dos  Assuntos Internacionais, e do Senhor Marcos Sharlau, Presidente do Instituto Cultural Judaico. O Vereador Adeli Sell, em nome da Bancada do PT, comentou perseguições sofridas pelo povo judeu ao longo de sua história, analisando conceitos como Povo, Nação e Estado e propugnando por uma sociedade mais marcada pela harmonia, paz e união entre todos os seres humanos. Após, o Vereador Clovis Ilgenfritz informou que teria de se ausentar da presente Sessão, passando a presidência dos trabalhos ao Vereador Isaac Ainhorn, 1º Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre. O Vereador Pedro Américo Leal, em nome da Bancada do PPB, discorrendo sobre a história hebraica, salientou a perseverança e coragem do povo judeu, lembrando a formação do Estado de Israel e a participação do brasileiro Oswaldo Aranha na mesma. Em prosseguimento, o Senhor Presidente registrou as presenças das Senhoras Ena Raskin, Sara Gerber e Dora Rosman, Presidente e Diretoras do N'Amat Pioneiras, e do Rabino Ruben Najmanovich, da Sinagoga União Israelita Porto-Alegrense. O Vereador Cláudio Sebenelo, em nome da Bancada do PSDB, teceu considerações acerca da história de Israel, destacando a força e beleza da cultura judaica e a influência da mesma junto à arte mundial. Na oportunidade, o Senhor Presidente registrou Moção aprovada ontem pela Casa, de autoria do Vereador Antonio Hohlfeldt, de Solidariedade à iniciativa de escritores rio-grandenses, que indicaram o nome de Moacyr Scliar para a Academia Brasileira de Letras. O Vereador Reginaldo Pujol, em nome da Bancada do PFL, lembrou amizades que mantém com integrantes da comunidade judaica, afirmando sua admiração frente à coragem desse povo e declarando ser ele o maior exemplo libertário que a humanidade já conheceu. A seguir, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Vice-Prefeito José Fortunati, que analisou a importância da história judaica para todos aqueles que lutam em prol da liberdade, cumprimentando o povo judeu, em especial a comunidade judaica de Porto Alegre, pelo transcurso do aniversário de fundação do Estado de Israel. Após, o Senhor Presidente convidou a todos para assistirem à apresentação do Coral Kalaniot, da Sinagoga União Israelita, regido pelo Senhor Germano Schmitz, e concedeu a palavra ao Senhor Maurício Soibelmann que, em nome da Federação Israelita do Rio Grande do Sul, agradeceu a homenagem hoje prestada pela Casa ao povo judeu. A seguir, o Senhor Presidente registrou a sanção, pelo Governo Federal, de Lei de iniciativa do Deputado Paulo Paim, que pune os delitos de natureza racial e a comercialização, fabricação e exibição da Cruz Suástica. Também, convidou os presentes para, em pé, ouvirem à execução do Hino Rio-Grandense pela Fanfarra do Comando Militar do Sul. Após, agradeceu a presença de todos e, às dezoito horas e quarenta e seis minutos, nada mais havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos, convidando para a Sessão Solene a ser realizada hoje, às dezenove horas. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores Clovis Ilgenfritz e Isaac Ainhorn e secretariados pelo Vereador Reginaldo Pujol. Do que eu, Reginaldo Pujol, Secretário "ad hoc", determinei fosse lavrada a presente Ata que, <D>após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores 1º Secretário <MOLD=2 pt><MF=27 mm><PF=12 mm><LF=164 mm><AF=261 mm>e Presidente.

 

 

 


O SR. PRESIDENTE (Clovis Ilgenfritz): Estamos iniciando a 10ª Sessão Solene, destinada a homenagear o Estado de Israel, conforme Requerimento do Ver. Isaac Ainhorn.

Convidamos, de imediato, para compor a Mesa o representante do Sr. Prefeito Municipal, Vice-Prefeito Sr. José Fortunati; o Presidente do Conselho de  Entidades Judaicas do Rio Grande do Sul, Sr. Samuel Burd; o Presidente da Federação Israelita do Rio Grande do Sul, Dr. Maurício Soibelmann; o representante do Sr. Governador do Estado, Dr. Ricardo Russowsky, Presidente do Sistema Financeiro Estadual; o representante do Comando Militar do Sul, Cel. Irani Siqueira; o representante do Comando da Brigada Militar, Major Gilson Zimermann.

Convidamos os presentes para ouvirmos o Hino de Israel e, logo a seguir, o Hino Nacional.

 (São executados os Hinos.)

 

Queremos também anunciar a presença da Vera. Anamaria Negroni, dos Vereadores Isaac Ainhorn, João Dib, Pedro Américo Leal, Cláudio Sebenelo, Adeli Sell,  que nos honram com suas presenças.

O Ver. Isaac Ainhorn, proponente desta homenagem, que fala pelas Bancadas do PDT, PTB, PMDB, PPS e PSB, está com a palavra.

 

O SR. ISAAC AINHORN: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa.) Antes de mais nada,  Sr. Presidente, o nosso registro de que, na realidade, estamos, por ocasião desta Sessão Solene, dando seguimento a Lei Municipal que estabelece que, no dia 14 de maio, a Câmara Municipal de Porto Alegre realize ato alusivo ao Dia de Solidariedade ao Estado de Israel. Apenas, Sr. Presidente, tomei a iniciativa de pedir a V.Exa. o deferimento daquilo que já se constitui uma tradição neste Legislativo Municipal e que, nesta oportunidade, expressa essa integração que vem ocorrendo no curso desses anos de forma cada vez mais consolidada: uma integração da comunidade judaica e o respeito que ela tem na sociedade maior, na comunidade rio-grandense e na comunidade brasileira. Nos últimos dois anos, temos assistido a essas Sessões Solenes com a presença de uma banda do Exército brasileiro, de um desses comandos que tradicionalmente aqui comparece e executa, solenemente, os hinos do Estado de Israel e do Brasil. A integração da comunidade judaica na sociedade brasileira e o reconhecimento da integração e da solidariedade, como deferido em lei municipal, ao Estado de Israel, constituiu-se num imperioso fato decorrente de uma situação extremamente singular, que é a situação que sempre a humanidade vive em termos daquilo que acontece no Oriente Médio. O Brasil e o povo brasileiro têm razões de sobra, porque, se de um lado a presença judaica no Brasil é marcada oficialmente pela vinda das famílias já acossadas pelo drama da perseguição, pelo drama do anti-semitismo na Europa Ocidental, vindas da Rússia e da Polônia as primeiras levas oficiais, por assim dizer, de imigrantes, no ano de 1904, todos nós sabemos que esta história tem  raízes muito mais profundas, muito mais presentes nos 500 anos que estamos próximos a comemorar, dentro de mais alguns anos, da descoberta do Brasil. Poderíamos, sem sombra de dúvidas, dizer que os primeiros europeus que pisaram no solo brasileiro eram judeus portugueses e, desde então, esta presença vem se dando de forma intensa no decorrer destes séculos, com inúmeras contribuições em todos os campos das atividades humanas, notadamente na área cultural do nosso País. Hoje nos reunimos para comemorar o 49º aniversário do Estado de Israel, de um povo que tem mais de cinco milênios de existência e que comemora, nesta oportunidade, os seus 50 anos de vida. Os primeiros israelenses, já sob a égide da independência do Estado de Israel, nascidos naquele País, ainda não comemoram o seu cinqüentenário, o seu aniversário de 50 anos, um marco na existência de qualquer cidadão, mas que para um povo é extremamente pequeno. Um povo que ingressa nos seus 50 anos de existência, de constituição do seu lar nacional, é, paradoxalmente, um povo que, ao mesmo tempo, tem quase seis mil anos de existência e sobrevive através da história. Em 1997, ele também é muito representativo, porque no calendário gregoriano, no dia 14 de maio de 1948, estaremos comemorando aqui, nesta Casa, com certeza, no próximo ano, os 50 anos de existência do Estado de Israel. Não podemos esquecer,  Srs. Vereadores, que foi há 50 anos, no ano de 1947, que na Organização das Nações Unidas, sob a presidência de um gaúcho, notadamente sob a presidência de um rio-grandense de Alegrete, se deu a célebre reunião de deliberação da ONU em que se deu o reconhecimento da existência de um lar nacional judeu, ao lado de uma partilha que reconhecia uma área ao povo palestino. Esse momento se deu exatamente há 50 anos e é curioso porque as primeiras tratativas da Organização das Nações Unidas se davam em maio de 1947 e chegaria, em 29 de novembro de 1949, a celebração da célebre assembléia-geral da Organização das Nações Unidas presidida por um gaúcho de Alegrete e que tem uma presença e um reconhecimento muito grande de parte de todo o povo judeu. Especialmente quando se viaja ao Estado de Israel, meu caro Sebenelo, se observa o carinho com que as autoridades do governo israelense se referem à figura desse alegretense Osvaldo Aranha. E isso nos impõe, como gaúchos, uma responsabilidade histórica e cultural muito maior em relação ao conjunto do País até pelas peculiaridades e vicissitudes nossas, de rio-grandenses, de povo corajoso, aguerrido e que tem uma presença e participação, dentro do País, muito grande, de uma forma muito representativa na vida cultural, na vida política e na vida social deste País, apesar de estarmos esquecidos e alijados do processo de vida do País. Nisso, quem sabe, há uma grande identificação de sofrimento, de perseguições, de esquecimentos que o povo judeu sofreu através da história e, muitas vezes, é por esse esquecimento que passa o povo rio-grandense no contexto nacional.

Além desse fato, da célebre reunião da assembléia-geral das Nações Unidas que reconheceu o direito do povo judeu a um lar nacional, o outro fato, que faz uma ligação muito próxima, que é o presente e o passado, são os 100 anos do I Congresso Sionista da Basiléia, em que Teodoro Herzl profetizou, no século XX, a criação do Estado de Israel ainda sob o impacto do célebre caso Dreyfus, da perseguição sofrida por esse oficial das Forças Armadas Francesas pela sua condição judaica, por ter recebido uma acusação de entregar segredos militares para outros países. Essas referências, meu caro Vice-Prefeito José Fortunati, são muito importantes e, quando celebramos anualmente, nesta Casa, o Dia de Solidariedade ao Estado de Israel, nós transformamos esta Sessão Solene num momento de reflexão, num momento de debate, num momento de discussão proporcionada exatamente por esses dados, por essas referências. Agora mesmo estamos evocando a lembrança de Osvaldo Aranha, há 50 anos, quando, presidindo a sessão da ONU, reconhecia ao povo judeu o direito a um lar nacional. Evocávamos também, neste momento, os 100 anos do I Congresso Sionista da Basiléia, presidido por Teodoro Herzl, em que preconizava e profetizava não só o direito, mas que o povo judeu chegaria à consecução do seu objetivo maior, que é o retorno "à terra do leite e do mel". Por isso, neste momento, repetimos nesta Casa uma tradição que vem se tornando uma presença marcante mesmo antes da Lei Municipal que referenciava o dia 14 de maio como o Dia de Solidariedade ao Estado de Israel. Eu evoco aqui uma lembrança:  em períodos anteriores à presença de membros da comunidade judaica com assento neste Legislativo, muito antes da minha presença como Vereador desta Casa, oriundo da comunidade judaica, outros Vereadores mantinham essa tradição que também é cinqüentenária. Recordo do Ver. Reginaldo Pujol requerendo Sessão Solene muito antes de eu estar aqui nesta Casa, no início da década de 80; Ver. João Dib também. Já estavam antes aqui na Casa. Esta Casa, que teve as suas portas fechadas assim como todos os parlamentos municipais em 1937, também as reabriu em 1947, dez anos após. Ainda que 1945 representasse o fim do Estado Novo, somente em 1947 esta Casa reabriu as suas portas. A Câmara, que tem mais de duzentos anos de existência, teve um tempo interrompido. Retornou à cena exatamente no momento em que se passava a respirar um amplo quadro de redemocratização do País. Essa oxigenação que se passou a viver após 1945, ao término da 2ª Guerra Mundial, chegou até nós. Portanto, relembro a importância que tem esse marco comemorativo dentro do calendário das homenagens prestadas ao Estado de Israel. No ano passado, quando presidi esta Casa, com a participação de todos os colegas Vereadores, tivemos oportunidade de, junto com o Governo Municipal, participar de dois atos muito importantes: a criação do Bosque Yitzhac Rabin, na parte fronteira da Câmara Municipal; junto com esse ato, na presença do Embaixador do Estado de Israel, Dr. Yaacov Keinan, inauguramos no nosso salão da Avenida Cultural Clébio Sória, para a posteridade, uma placa comemorativa e evocativa dos três mil anos de Jerusalém. Por isso, Dr. Maurício Soibelmann, Dr. Samuel Burd, Dr. Ricardo Russowsky, nós - Câmara Municipal de Porto Alegre - somos uma Casa singular, não só no Conselho das Câmaras Municipais brasileiras, mas de todos os conselhos de cidades e, quem sabe, até de Legislativos brasileiros, que, de forma singular, sempre têm marcado a presença desta homenagem. E, por derradeiro, gostaria, na presença do Dr. José Fortunati, Vice-Prefeito de Porto Alegre, de dizer que, por força desta Lei Municipal, os atos comemorativos ao Dia de Solidariedade ao Estado de Israel são atos que integram o calendário oficial da Cidade e são feitos em conjunto - Câmara Municipal e Prefeitura Municipal. E, neste momento, meus caros Vereadores Adeli Sell, Cláudio Sebenelo, Pedro Américo Leal, Anamaria Negroni, João Dib, Reginaldo Pujol, deixaria aqui o registro da importância de que, o mais rápido possível, sob a convocação inclusive da iniciativa das entidades judaicas sediadas aqui, na Cidade de Porto Alegre, comecemos o calendário, o trabalho comemorativo ao marco, no ano que vem, dos 50 anos do Estado de Israel. É a convocação que lhes deixo. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Temos a satisfação de informar o recebimento de telegrama, desculpando-se pela ausência e enviando cumprimento, do Secretário de Desenvolvimento e dos Assuntos Internacionais, Sr. Nelson Proença. Também do Presidente do Instituto Cultural Judaico, Marcos Sharlau.

Queremos citar personalidades que devem se considerar como extensão da Mesa: Sr. Ney Michelucci Rodrigues, Diretor-Presidente da União de Seguros; Sr. Samuel Ochman, Presidente da Associação Israelita Brasileira Maurício Cardoso; Sr. Ghedale Saitovitch, Presidente da Associação Sionista do Rio Grande do Sul; Sra. Matilde Gus, representante da Vitso do Rio Grande do Sul; Sr. Boris Weinstein, Presidente da União Israelita de Porto Alegre; Sr. Guershon Kwasniewski, representante da Sociedade Israelita Brasileira; o Sr. Rabino  Mendel Riberow;  Sras. Ana Rosa Ratner Kirschbaum, Helga Hofmann, Cirlei da Graça Santana, representando a Instituição de Mulheres Judias (WIZO); o Dr. Israel Lapchik, Vice-Presidente do Conselho de Cidadãos Honorários de Porto Alegre; Dr. Nilo Berlim, Presidente da B'nai B'rith; e o Sr. Henrique Henkie, ex-Deputado Federal.

O Ver. Adeli Sell está com a palavra e falará pelo Partido dos Trabalhadores.

 

O SR. ADELI SELL: (Saúda os componentes da Mesa.) Falo, com muito  prazer, com muita responsabilidade, em nome da Bancada do Partido dos Trabalhadores, para dizer que eu me pergunto como nós podemos, nesta data tão importante para o povo judaico, discutir a possibilidade da união entre o povo, a Nação e o Estado. O Estado, a Nação e seu povo, porque é disso que na verdade se trata, quando nós hoje lembramos da fundação do Estado de Israel. Não podemos admitir neste século, e não poderia ser admitido há 49 anos,  um povo que, no seu conjunto, formava uma Nação e não tivesse o seu Estado, a sua representação. E é por isso que nós queremos deixar aqui registrado que, sempre que um povo se divide, vai de um canto para outro do mundo, é porque não encontra um Estado para abrigá-lo. Nós estaremos cerrando fileiras com este povo para que ele, no seu conjunto, formando a sua Nação, encontre o seu Estado. Nós somos defensores da autodeterminação dos povos, nós somos defensores da democracia, da liberdade, e nós, mais do que nunca, neste fim de século, início do novo milênio, somos ardorosos defensores da paz, porque a paz é o primeiro elemento para que nós possamos ter dignidade, cidadania e representação dos homens e mulheres na face da terra. Nós, nesta data, nesta Cidade, Porto dos Casais, que abrigou, que se abriu para famílias, desgarrados, desgarradas, que para aqui vieram. E o seu rio, abrindo os seus braços para abrigá-los aqui e aqui viverem, aqui se irmanarem com outros povos, com outras nacionalidades, porque nós queremos, em qualquer lugar do mundo, que um Estado representativo e democrático possa abrigar o seu povo, constituir a sua Nação e, portanto, sem deixar que qualquer irmão seu viva desgarrado pelo mundo, ou pior, perseguido, como foi o povo judeu. Nós também aqui, no Brasil, recebemos pessoas de muitas e variadas nacionalidades. Nós somos brasileiros, mas nós somos essencialmente homens e mulheres abertos para todos os que para cá vêm. E nós, nos dias de hoje, e neste dia especial, queremos marcar a nossa visão de que devemos banir da face da Terra a perseguição. Banir para sempre, entre nós, ódios e rancores. Nenhum ódio de nenhuma espécie poderá existir, mas um dos piores ódios é o ódio racial. É aquilo que muitos e muitos dos senhores vivenciaram e suas famílias vivenciaram. Nós queremos, com este ato e com a proposta que faz o Ver. Isaac Ainhorn para o ano que vem, ao marcarmos 50 anos do Estado de Israel, lutar com todo o povo judeu, com todos os povos e com todos os porto-alegrenses, em especial, por um mundo de harmonia, fraternidade e de paz. Muito obrigado.

 

 (Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Antes de passarmos a palavra ao próximo orador, este Presidente pede desculpas por ter que se retirar da Sessão, em função do chamado que recebeu, e solicita ao 1º Vice-Presidente da Casa, Ver. Isaac Ainhorn, que assuma os trabalhos.

Gostaria de registrar a minha honra e satisfação de ter podido participar de mais este evento em homenagem ao povo de Israel, em homenagem ao Estado de Israel, nossos irmãos. Obrigado a todos. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE (Isaac Ainhorn): Passamos a palavra ao Ver. Pedro Américo Leal pela Bancada do PPB.          

 

O SR. PEDRO AMÉRICO LEAL: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, autoridades que compõem a Mesa e demais presentes. Quarenta e nove anos de Estado de Israel. Falo em nome dos Vereadores João Dib e João Carlos Nedel.

 Um povo em busca de um pedaço de terra, teimando em ser Nação. É empolgante estudar a lenda hebraica e com isto a história de toda humanidade.

Trazido ao Egito por Abraão, povo nômade, tornou-se agricultor no delta do Nilo, fez sua riqueza e com isso provocou sua própria destruição: a cobiça e a sua perseguição. Dizem que o judeu não é agricultor. Subjugado por longo tempo, é conduzido por Moisés a Canaã - na longa caminhada, 40 anos de deserto.

Na rota do êxodo, evitam grandes rotas comerciais e rotas militares, optando pela vastidão do deserto, conduzindo ao episódio que surpreende a humanidade: o afastamento do mar.

A conquista de Jericó, a luta por Jerusalém, luta eterna que atravessa milênios e continua a ser artigo de jornais, ainda em nossos dias. Duas vezes conquistadas por Nabucodonosor.

O que teria levado Ciro, o grande general e conquistador, a autorizar a volta dos deportados? Que motivo? Mistério cerca esse povo; há um halo de mistério: povo escolhido, algo divino que intriga e empolga.

No ano 60 ou 70, não se sabe ao certo - datas são relativas nas referências históricas -, Pompeu invade a Palestina, Tito destrói a Terra Santa. Jerusalém é berço de três religiões até hoje.

Enigmaticamente, o mundo se volta a todo instante sobre esta bomba-relógio, pedaço de terra, lá no Oriente Médio, a mobilizar todas as atenções: a Palestina.

Olhar para a mesquita de Omar, para o Muro das Lamentações, a Esplanada das Mesquitas, a Mesquita de Al-Aqsar, faixa de Gaza, as Colinas de Golan é observar fascinado o que acontece há milhares de anos, sempre no centro de todos os acontecimentos: Israel! Por quê? Não conheço esses locais e eles me fascinam! Israel, sempre Israel nas cogitações de todo mundo. E foi um brasileiro, um tal de Osvaldo Aranha - Osvaldo Euclides de Souza Aranha - que do Alegrete se atreveu a resolver essa pendenga mundial, quase eterna. Advogado, formado no Rio, com banca em Uruguaiana, viveu à época das revoluções que projetaram Assis Brasil, Silveira Martins, Flores da Cunha, Júlio de Castilhos, Batista Luzardo e os Terras, os Borges de Medeiros e tantos outros. Clarins de luta ecoavam por todas as coxilhas do Rio Grande, e Osvaldo Aranha não podia ser indiferente. Levaram-no a participar do Pacto de Pedras Altas em  1923. Esse castelo enigmático, indecifrável como a esfinge, a indagar a todo o nosso Pampa a sua razão de ser.  A carreira política de Osvaldo Aranha foi ciclópica, como era o seu jeitão. Vivíamos a era getuliana. De Deputado foi a Ministro, conduzido a Embaixador do Brasil; Secretário-Geral dos Estados Unidos, Secretário-Geral da ONU. Vivíamos no ano de 1947, já citado aqui pelos oradores que me antecederam. Criava-se o clima, os desígnios para a formação do Estado de Israel. O que o levou a essa iniciativa semelhante a Ciro, pateticamente a Ciro? Com uma canetada da direção, finalizando a busca milenar desse povo sofrido, inteligente e preparado, detentor do maior número de prêmios Nobel do mundo - talvez não saibam disso, mas é! Gesto de caudilho, só explicável se nos detivermos numa de suas cartas ao seu amigo Gen. Flores da Cunha, que repito aqui porque acho belíssima. Dizia ele para Flores da Cunha: "Não vivemos em vão, Flores. As decisões que tomamos em todos os campos de atividades da vida assemelham-se à Semana da Criação. Ajudamos, Flores, a amainar a terra com suor, com sangue. Desbastamos os horizontes do futuro com sacrifícios e ideais. Sua parte foi grande e generosa, mas não vivemos em vão, podemos esperar a morte com tranqüilidade, como quem acorda com serenidade uma visita familiar".

 Era assim Osvaldo Aranha, um caudilho, um homem de  repentes. Sempre admirei os caudilhos. Ele se retiraria inconscientemente ao seu destino. Era um homem escalado para abrir caminhos, mal comparando, no arremedo da história, ao mar que se abre agora novamente para que este grande povo, o povo de Israel, privilegiado em inteligência, possa passar rumo ao seu pedaço de terra, que para se manter paga o preço de vidas preciosas de seus filhos, hoje constantemente contestado e agredido, como se diz mundanamente "matando um leão por dia para sobreviver". Permanentemente armados, militares por necessidade, civis por vocação. São judeus, tornaram-se assim a segunda potência militar do mundo, saíram da 2ª Guerra Mundial como a segunda potência mundial do mundo em técnicas, em preparação e não em efetivos. Pela inquebrantável persistência dos seus filhos, fez das areias do deserto uma terra florida, exuberante. Pela inteligência privilegiada do seu povo é ouvido e respeitado em todo o mundo, até pelos Estados Unidos. Volta e meia, o Primeiro-Ministro de Israel atravessa o oceano e vai a Nova Iorque, o mundo periclita e os dois se reúnem. Há dois Israéis: o de lá e o da diáspora, espalhada pelos judeus, todos solidários, com os olhos voltados para tudo o que se passa em Israel, neste pequeno e notável País de gente inteligente. Isaac Ainhorn, meus cumprimentos. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

 O SR. PRESIDENTE:  Gostaríamos de registrar a presença, nesta Sessão Solene, da Sra. Ena Raskin, que preside a N´Amat Pioneiras, acompanhada das suas diretoras Sara Gerber e Dora Rosman; e também gostaríamos de citar a presença do Rabino Ruben Najmanovich, da Sinagoga União Israelita Porto-Alegrense.

O Ver. Cláudio Sebenelo está com a palavra.

 

O SR. CLÁUDIO SEBENELO: Meu querido colega, amigo, Presidente em exercício nesta Casa, Isaac Ainhorn, que nos dá essa oportunidade magnífica de conversarmos com toda esta plêiade de visitantes, que nos honra tanto com sua presença, Senhores componentes da Mesa, nós ouvimos há pouco o Hino de Israel, com sua melodia maravilhosa. Se aguçarmos um pouco mais o ouvido, vamos ver que seu tom menor expressa toda a tristeza, toda a dificuldade, toda a travessia, todo o êxodo, esse êxodo que caracterizou um pequeno povo tribal que uns mil e poucos anos antes de Cristo fora unificado pelo Rei Saul, que nos deu a parábola histórica de Davi e Golias, e hoje ela se reproduz no mundo nesse pequenino País contra tantos e contra tanta força. O apogeu do Rei Salomão até a destruição de Jerusalém pelo general romano Tito, 70 anos depois de Cristo, fez com que esse povo tão “sui generis”, essas tribos tão diferentes na sua cultura, na sua língua, na sua terra, perdessem aquele gosto de raiz, de chão, para a diáspora. E os judeus ficaram séculos e séculos à beira dos feudos fazendo a única coisa que poderiam fazer e, por isso, perderam  a agricultura. Eles negociavam, mas não eram aceitos no feudo. Mostravam a sua inteligência, a sua competência, como, por exemplo, no Renascimento, os primeiros banqueiros, na primeira idéia de moeda, de troca de circulação, que é, indiscutivelmente, de origem judaica, até que, em 1948, depois do horror do holocausto, daquilo que a humanidade traz como mais recente exemplo do inaceitável, Osvaldo Aranha apenas devolve a Israel a pátria perdida. Pátria, Nação, Estado, como diria o Ver. Adeli. Perdeu-se o povo, perdeu-se o Estado, mas não perdeu a Nação. Continuou o povo judeu sem onde colocar os pés num chão que fosse o seu. A  primeira grande dádiva dessa criação - uma figura quase próxima ao celestial, David Ben Gurion, o Primeiro-Ministro que experimentou o direito do retorno e criou uma Israel que nos ensina tanto sob todos os pontos de vista.

 Nós temos um porto-alegrense, do Alegrete, que nós adoramos, chamado Mário Quintana. Diz que as guerras servem para aprender Geografia, e a geografia da Ásia nós aprendemos através da guerra. Seis milhões de judeus desapareceram no holocausto, e aí não termina o martírio judeu. Continua com a crise de Suez, com a Guerra dos Seis Dias, com a Guerra do Yon Kippur, na luta da OLP. Se nós começarmos a pensar na face do povo judeu, na sua identidade, esta pode ser expressa por inúmeras pessoas. Fiz uma relação e anotei ao sabor do meu pensamento e da minha admiração. Este momento extraordinário faz com que eu me lembre de Arthur Rubinstein, pianista que marcou época neste século; lembro-me de um pintor; certamente talvez estejamos enlevados com essa propriedade de passar para a sua psicomotricidade fina os quadros mais lindos de Marc Chagall; um compositor que faz uma ode a Nova Iorque, George Gershwin, numa das músicas mais lindas arranjadas por um maestro também inesquecível - Leonard Bernstein; a 4ª Sinfonia de Gustav Mahler - era considerada intocável de tão difícil. Hoje as orquestras do mundo inteiro se aprimoram. Esse maestro beira à genialidade de Beethoven. Gustav Mahler é um marco da união das criatividades, do bom gosto e do trabalho. Quem denunciou ao  mundo crimes de guerra no Vietnan, aos 99 anos, chama-se Bertrand Russell. Aqui do lado, o escritor do conto talvez inesquecível da minha vida - chama-se "A Orelha de Van Gogh", de Moacyr Scliar. Ontem nós o indicamos para a Academia Brasileira de Letras, para que não seja injustiçado como o foi Mário Quintana. Tivemos um crítico literário que fugiu da guerra e veio para Porto Alegre. Chama-se Herbert Cahro. Talento e competência como crítico literário, assim como Otto Maria Carpeaux. Se lembrarmos, ficam escritores como Kafka e tantas outras genialidades, como o livreiro Maurício Rosemblatt. Eu tenho um gênio que é meu colega de turma da Medicina: chama-se Roberto Szidon. Ele está hoje em Porto Alegre e é um pianista dos melhores do mundo atualmente. Eu enumeraria tantos mais desse Estado de Israel que nos presenteou com tantas outras coisas boas. Os gênios de Karl Marx, Sigmund  Freud, Albert Einstein, Von Braun e o estadista Menahem Begin,  a ponto de a relação de inimizade passar a uma relação de paz, por exemplo, secular com o Egito, quando Anwar el-Sadat reconhece um acordo  presidido por Jimmy Carter, em 1978, com a possibilidade muito grande de paz com o Egito, e o Deserto Sinai é devolvido a ele. E os episódios da Intifada, da Guerra do Golfo, pelos trabalhistas e conservadores, ora um, ora outro, às vezes unidos, às vezes desunidos em uma política entre Yitzhak Rabin. E para mim o maior estadista da paz deste século é Shimom Peres. E a história do assassinato de Rabin, em 04.11.95, e as eleições de Israel, acompanhadas pelo mundo inteiro, em que, estranhamente, esse estadista Shimon Peres é derrotado pelo conservador  likud Benjamin Netanyahu (Bibi)  e hoje Primeiro Ministro de Israel, faz com que cada vez mais admiremos esse Estado que tem uma conquista muito recente. Desde maio de 1996, quase 50 anos depois do fim da Segunda Guerra, o Congresso Mundial Judaico, de acordo com a Associação de Banqueiros Suíços - e falo em banqueiros em homenagem ao meu amigo Ricardo Russowsky -, que permite um acesso ilimitado, mostrando inclusive que a Suíça teve  um papel importante financiando a guerra nazista, mas o resgate de tudo aquilo que foi roubado do povo judeu.

Eu falaria muito mais, porque, como disse o Coronel Pedro Américo Leal, é muito fácil falar sobre Israel. Eu falaria da utopia dos kibutz, uma sociedade de paz, de produção, de humanidade. Eu falaria de uma língua que se fala em Jerusalém, chamada ladino, que é muito parecida com o português, que é quase ininteligível, como se fosse o português. É uma mistura de alguma coisa árabe, alguma coisa iídiche, alguma coisa portuguesa. Eu falaria do “Violinista no Telhado”, que é um dos filmes mais lindos que eu vi na minha vida. Eu falaria do Colégio Israelita, do Clube Campestre, do Time do Israelita daqui de Porto Alegre. Outro dia, eu vi uma foto linda, de muitos anos atrás, do Bairro Bom Fim, este Bom Fim, hoje, tão importante na nossa vida, no nosso pensamento intelectual e, principalmente, mostrando que Porto Alegre tem incrustada, dentro de si, esta pérola desta sociedade israelita. Nós a cultivamos com carinho e com toda amizade. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Nós gostaríamos de registrar a referência feita pelo Ver. Cláudio Sebenelo à Moção que foi aprovada ontem, por unanimidade, nesta Casa, de iniciativa do Ver. Antonio Hohlfeldt, do PSDB, solidarizando-se com a iniciativa de um grupo de escritores rio-grandenses que fizeram a indicação de Moacyr Scliar para a Academia Brasileira de Letras.

O Ver. Reginaldo Pujol está com a palavra.

 

O SR. REGINALDO PUJOL: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) O Ver. João Dib, que me conhece de longa data, há pouco me chamava a atenção a respeito da concentração que me envolvia durante o pronunciamento do Ver. Cláudio Sebenelo. Eu lembrava de 24 anos passados. Lembrava das razões que, pela primeira vez, me haviam motivado - eu, que não sou judeu - a requerer, pela primeira vez na história da Casa, um ato solene, público alusivo ao Estado de Israel. E quando o ouvi citar inúmeras pessoas que fizeram da comunidade judaica uma comunidade elogiada e respeitada por sua tenacidade, quando o ouvi citar tantos valores, eu busquei, nas reminiscências, alguém, um judeu que não foi tão importante para o mundo, mas foi muito importante para mim, que foi o meu motivador naquela oportunidade - Henrique Halpern, meu irmão, que durante longos anos esteve comigo, como assessor desta Casa, e com quem eu comecei a compreender melhor o valor dessa gente, do povo judeu e da comunidade judaica. O Henrique, o seu irmão Elias, o seu pai Lion, sua mãe dona Maria, seus amigos e que depois ficaram meus amigos, como o Rafael Estrougo, Maurício Behar.                              

Eu consolidei, Ver. Isaac Ainhorn, aquilo que eu já havia aprendido a respeitar nas nossas andanças de estudantes ali no Bom Fim, de que participávamos junto com o outro Isaac Alster, com o Cláudio Treiguer e tantos outros jovens e que peço desculpas a todos por não citá-los e que mereceriam. 

Eu aprendi a querer bem ao povo judeu quando comecei a entender os seus integrantes. E lembro-me que, em 73, Ver. João Dib, quando nós fazíamos aquela primeira homenagem, eu citei um trecho do artigo do Carlos Frederico Vernec Lacerda que eu acho que sintetizava bem a história do povo judeu. Ele lembrava, um pouco depois da Guerra dos Seis Dias, fazendo uma paródia, que Davi, depois de ter vivenciado o gosto da vitória, o gosto pela liberdade, não havia mais de encolher a sua funda na presença dos filisteus. Esse povo tão sofrido, cuja história é uma verdadeira saga, não será jamais contido, e me move um dos sentimentos mais vigorosos que pode o ser humano sentir. Este povo, para mim, que sou um liberal, é o maior exemplo libertário que a humanidade conheceu. Quem lutou pela liberdade religiosa, pela liberdade econômica, social e racial não vai nunca encolher a sua funda. Irá continuar estendendo-a para que, se preciso for, projete todo esses sentimentos com tal impulso que nunca ninguém e jamais alguém possa privá-lo daquilo pelo qual tanto lutou: a sua liberdade. O Estado de Israel, cujas homenagens nós, hoje, tributamos, é, como bem disse o ilustre Ver. Pedro Américo Leal, o mero símbolo de todas essas conquistas e todas essas  afirmações. Todos os Senhores e todas as Senhoras que hoje, aqui, representam a comunidade judaica de Porto Alegre recebam, em nome do meu partido, o Partido da Frente Liberal, as minhas mais sinceras e emotivas homenagem a este povo, a esta comunidade predestinada, estóica e, sobretudo, imbatível na sua pertinácia de buscar, no dia-a-dia, a afirmação de seu direito à liberdade e à igualdade. Muito obrigado.

 (Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Gostaria de fazer o registro da presença dos Vereadores Elói Guimarães e João Carlos Nedel. Temos a honra, neste momento, considerando a natureza da Lei Municipal que integra o Legislativo e o Executivo na homenagem ao Dia de Solidariedade ao Estado de Israel, de passar a palavra ao Vice-Prefeito de Porto Alegre, Sr. José Fortunati.

 

O SR. JOSÉ FORTUNATI: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa.) Em nome do Prefeito de Porto Alegre, Sr. Raul Pont, em meu nome e da Prefeitura Municipal de Porto Alegre, gostaria de traduzir os nossos cumprimentos ao povo judeu pelos 49 anos da criação do Estado de Israel.

É necessário relembrar que há cem anos, como já o fez o Ver. Isaac Ainhorn, o jornalista Teodoro Herzl, no Congresso Sionista, teve uma atuação extremamente importante, e afirmava, naquele momento, que "se você quiser isto não será uma lenda", isto é, afirmando cabalmente de que, se o povo judeu disperso pelo mundo todo unificasse o seu pensamento, a sua vontade, o Estado de Israel se tornaria uma realidade.  A realidade e a luta de um povo mostrou que este sonho, que parecia, para muitos, tão distante, acabava se tornando algo muito concreto. O povo de Porto Alegre, aliás - importante relembrar isso, meu caro Ver. Isaac Ainhorn -, relembra a figura de Teodoro Herzl ao homenageá-lo, dando seu nome a um largo que fica em frente do Hospital de Pronto Socorro. Muitos talvez não saibam, mas essa memória histórica se torna  extremamente importante no momento em que estamos aqui para homenagear o Estado de Israel. Mas se, de um lado, estamos aqui comemorando um dos sonhos do povo judeu, eu, que sou brasileiro e de origem italiana, mas que tenho acompanhado passo a passo a luta desse povo, tenho a consciência e a convicção de que existe um outro sonho que ainda não se concretizou, que é o sonho de uma paz, uma paz duradoura, uma paz permanente, uma paz que possa apontar para o povo judeu e para todos nós deste planeta uma segurança, uma nova fraternidade. E esta é uma responsabilidade não só do povo judeu que vive em Israel, não somente do povo judeu que vive no Brasil ou em qualquer parte deste nosso planeta. É uma responsabilidade, um dever de todos nós lutar para que esta paz desejada há milênios seja conseguida  num futuro bastante próximo.

Finalmente, quero afirmar ao Ver. Isaac Ainhorn que assumo, em nome do Prefeito Raul Pont, em conjunto com a Câmara de Vereadores de Porto Alegre e em nome da Prefeitura Municipal, esta tarefa de, desde logo, começarmos a preparar as comemorações dos 50 anos da independência do Estado de Israel. Acredito que não se trata, pura e simplesmente, de uma data emblemática.  Mais de que isso, se trata de uma data em que os povos do mundo inteiro devem reverenciar a luta de um povo em busca da fraternidade, de uma paz que deve nortear todos os nossos movimentos. Cumprimento o povo judeu, em especial a comunidade judaica de Porto Alegre, pelo transcurso desta data. Vida longa a Israel! Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Neste momento, dentro das comemorações desta Sessão Solene alusivas a esta data, temos a honra de anunciar a apresentação do Coral Kalaniot, da Sinagoga União Israelita, sob a regência do Professor Germano Schmitz.

 

O SR. GERMANO SCHMITZ: O Coral Kalaniot entoará uma canção do cancioneiro judaico, que se chama Shirim Holchim Im Anashim. Quer dizer: “as canções acompanham as pessoas de perto, de muito perto, na alegria e na guerra, nas comemorações e também quando chegar a paz”.

 

(Procede-se à execução da música.)

 

O SR. PRESIDENTE: Em nome da Câmara Municipal de Porto Alegre, queremos agradecer a participação de todos os membros do Coral Kalaniot na pessoa do professor Germano Schmitz. Passamos a palavra ao arquiteto Maurício Soibelmann, Presidente da Federação Israelita do Rio Grande do Sul.

 

O SR. MAURÍCIO SOIBELMANN: (Saúda componentes da Mesa e demais presentes.) Sr. Presidente, Srs. Vereadores, Senhoras e Senhores, quero fazer um agradecimento muito especial à Diretoria que compõe a nossa Mesa, trabalhando incessantemente para que a nossa Federação siga o caminho que desejamos. A Federação Israelita do Rio Grande do Sul, entidade representativa da comunidade israelita gaúcha, sente-se honrada e sensibilizada ao receber do Executivo porto-alegrense esta homenagem tão importante e significativa para nós, brasileiros de origem judaica. A lembrança desta Casa em homenagear o Estado de Israel pelos seus 49 anos, muito nos emociona, mais uma vez por proposição do nobre Ver. Isaac Ainhorn, cuja identificação com esse Estado é por demais reconhecida por todos nós. Esta homenagem é mais um ato de integração que esta Casa realiza, pois o Rio Grande foi o Estado que acolheu, no início do século, os imigrantes judeus, dando oportunidade a que eles se estabelecessem e se desenvolvessem na mescla de povos vindos de diversas partes do mundo. E de um relacionamento amistoso, sem preconceito, sem discriminação, surgiu esse Estado, pujante Estado que se impõe pela sua indústria, pela sua agricultura, pela sua pecuária, pela sua cultura e, principalmente, por seus homens. Graças ao trabalho, à força e à dedicação desses povos é que o Rio Grande cresceu e se desenvolveu, tornando-se o Estado de melhor nível de vida no Brasil e que, muito em breve, alcançará a condição de primeiro mundo. Hoje formamos um só povo, sem diferenças, cada um com a liberdade de exercer a sua religião e as tradições de seus países de origem. O Estado de Israel, em menos de 50 anos, é considerado o milagre do século, porque em tão pouco tempo de existência transformou desertos em extensas áreas verdes, exportando tecnologia e dando ao mundo um exemplo de democracia e de socialismo puro através da vida no kibutz. Este jovem País, com muita vontade de crescer, deseja muito a paz com os seus vizinhos, uma paz definitiva e com um bom relacionamento. Temos a convicção de que todos serão beneficiados, pois Israel, com o seu desenvolvimento, desenvolverá toda a região com sua tecnologia, beneficiará o mundo com seus princípios de moral e ética, beneficiará os homens com sua alegria e esperança. Sobreviverá a tudo e, com sua determinação, será exemplo para outros povos que hoje vivem problemas de sobrevivência.

Esperamos que a saga deste povo, que foi perseguido, discriminado e humilhado durante milênios, seja uma chama que irradie a luz entre os homens que buscam um mundo melhor, com muita justiça e mais entendimento. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Gostaria de fazer um registro que julgo muito importante: o da sanção de uma lei federal que proíbe a exibição, fabricação e comercialização de símbolos nazistas, como a cruz suástica e a cruz gamada. Esta Lei já existia em Porto Alegre, uma lei municipal que cassava o alvará, de iniciativa do Ver. João Dib. Hoje, nacionalmente, é iniciativa de um Deputado gaúcho: Paulo Paim. Há uma lei que segue a trajetória da lei de natureza racial, a começar pelo Dep. Caó e pelo ex-Deputado gaúcho Ibsen Pinheiro, e agora consolidada pela lei que pune os delitos de natureza racial e a comercialização, fabricação e exibição da Cruz Suástica com reclusão de três anos, iniciativa esta do Dep. Paulo Paim. (Palmas.)

Gostaríamos de convidar a todos para assistirmos de pé a execução do Hino Rio-grandense, que será executado pela fanfarra do Comando Militar do Sul, sob a regência do Tenente Almeida.

(É executado o Hino Rio-Grandense.)

Estão encerrados os trabalhos.

 

(Encerra-se a Sessão às 18h46min.)

 

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